terça-feira, 4 de outubro de 2011

PAPEL AVULSO- Parte I por Charlene Feiteiro*

Mas uma vez elas sobrevêm
Que quereis de mim, palavras?
Surgem serenas, tranquilas.
Contudo, sei que precedem um mar bravio e imperioso
Uma profusão de inquietação, revés
Do qual não posso mais fugir


Outrora era fácil
Oferecer resistência
Eu estava plena, completa
Agora, com os sentidos mortificados,
Não me resta mais nada
A não ser ceder aos seus desígnios


A descida é íngreme, asfixiante, oclusa
Porém, veloz
Uma legião de ilusões arrebata-me
Busco-te. Onde estarás?
Pouco consigo enxergar


O céu é átrio, profundo, mortal
Caminho, sem rumo
Em meio à hiléia escura, erma
Perdida, frequentemente, tropeço, choro
Mas nenhuma avaria física
É capaz de subjugar a dor dilacerante que rasga meu peito.
Porque, para ser poeta, é preciso ser triste?


Forço a mente para tentar trazer à tona
O exato instante onde
Perdi meu coração, onde falhei...
Sinceramente, não me lembro.
As vicissitudes sobrepujam
Qualquer forma de esperança.

*Charlene Feiteiro é colaboradora desse blog,que sempre que possível nos dividirá com suas poesias e cronicas.

Um comentário:

  1. Parabéns Charlene. Continue escrevendo e travando essa guerra com as palavras, talvez a única guerra justa, porque a ninguém fere, de leve ou mortalmente.
    ...ta aí uma coisa que eu não entendo: Por que poeta precisa ser triste? Talvez porque em algum momento de tristeza e frustração, recolheu-se ao seu canto e em silêncio pôs-se a escrever e assim preencheu naquelas linhas vazias, seu desabafo e sua dor...mas ainda bem que não é só de dor e de desabafos que vivem os poetas, prova disso, é que no fim da batalha com as palavras, eis que está feita, talvez parte do que é sua alma, uma poesia. (Amoa)
    ; D

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